A POESIA RI DOS SABIDOS
Textos do Episódio
Louis de Gonzague-Frick
Vénus bonne planète...
Vénus bonne planète, accorde-nous la vie
Supérieure et fais que ton puissant génie
Détruise le mensonge en ce temps archisot
Où chacun est si fier de conduire une auto. ***
Louis de Gonzague-Frick
Vênus bom planeta... tradução de Fabio Malavoglia Vênus bom planeta, a vida a nós consente Elevada e faz com que teu gênio potente Destrua a mentira deste tempo arqui-tolo Onde ter carro é o orgulho dos sem miolo.
Cecília Meireles Máquina Breve
O pequeno vaga-lume com sua verde lanterna, que passava pela sombra inquietando a flor e a treva — meteoro da noite, humilde, dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume, queimada a sua lanterna, jaz carbonizado e triste e qualquer brisa o carrega: mortalha de exíguas franjas que foi seu corpo de festa.
Parecia uma esmeralda e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo sabe que não a conserta.
José Paulo Paes Ficção Científica Depois de uma viagem Pelo espaço sideral, O astronauta chegou Ao seu destino final:
Um planeta diferente Cujo em-cima ficava embaixo E o atrás ficava na frente.
Um planeta tão estranho Que a sujeira era limpa E a água tomava banho
Um planeta mesmo louco Onde o muito era nada E o tudo muito pouco
Um planeta dos mais raros O seu ouro era de graça, O lixo custava caro.
O astronauta não gostou E foi-se embora. Quando Pensou estar muito longe Viu-se outra vez chegando
Num planeta onde, aliás, O embaixo ficava em-cima E a frente ficava por trás...
Alberto de Oliveira de “Notas de um Veranista” / 27 de Fevereiro
Vim. E achei vazio de hóspedes o hotel. Haviam todos ido em tropel a ver um destemido aviador que do Rio, em ascensão estranha, viera ter num só vôo a este alto de montanha. Toda a cidade agora enche-a um nome, um rumor: o aviador! No hotel, desde o jardim à sala e ao corredor, não se fala senão na glória do aviador. E nas ruas e aqui dentro é o mesmo clamor: O aviador! O aviador!
Alberto de Oliveira Num trem de subúrbio No trem de ferro vimo-nos um dia, e amarmo-nos foi obra de um momento, tudo rápido, como a ventania, como a locomotiva ou o pensamento. - Amo-te! Adoro-te! A estação primeira surge. Saltamos nela ao som de um berro. Nosso amor, numa nuvem de poeira, tinha passado, como o trem de ferro.
Giacomo Leopardi Scherzo
Quando fanciullo io venni
A pormi con le Muse in disciplina
L'una di quelle mi pigliò per mano;
E poi tutto quel giorno
La mi condusse intorno
A veder l'officina.
Mostrommi a parte a parte
Gli strumenti dell'arte,
E i servigi diversi
A che ciascun di loro
S'adopra nel lavoro
Delle prose e de' versi.
Io mirava, e chiedea:
Musa, la lima ov'è? Disse la Dea:
La lima è consumata; or facciam senza.
Ed io, ma di rifarla
Non vi cal, soggiungea, quand'ella è stanca?
Rispose: hassi a rifar, ma il tempo manca. *** Giacomo Leopardi Chiste tradução de Fabio Malavoglia Quando menino eu vim
às Musas me unir em disciplina
E uma daquelas me tomou a mão;
e o dia todo pelo seu favor
me conduziu no arredor
a revelar-me a oficina.
Mostrou-me parte por parte
os instrumentos da arte
e os serviços diversos
que cada uma delas
adota nas tutelas
das prosas e dos versos.
Eu olhava, e pedia:
e a lima, Musa, fica onde? E a Deusa a mim:
Foi toda consumida, agora obramos sem.
E eu, mas refazê-la
não vos toca, ponderei, ao vê-la fatigada?
Seria preciso, diz, mas não há tempo para nada.
Murilo Mendes
O utopista
Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.
Patativa do Assaré
Burro
Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.
Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.
Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,
É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.