....................................................................
Augusto dos Anjos As Montanhas soneto I Das nebulosas em que te emaranhas
Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,
Qual é, na natureza espiritual,
A significação dessas montanhas!
Quem não vê nas graníticas entranhas
A subjetividade ascensional
Paralisada e estrangulada, mal
Quis erguer-se a cumíadas tamanhas?!
Ah! Nesse anelo trágico de altura
Não serão as montanhas, porventura,
Estacionadas, íngremes, assim,
Por um abortamento de mecânica,
A representação ainda inorgânica
De tudo aquilo que parou em mim?!
.................................................................... Fernando Pessoa A montanha por achar
A montanha por achar
Há-de ter, quando a encontrar,
Um templo aberto na pedra
Da encosta onde nada medra.
O santuário que tiver,
Quando o encontrar, há-de ser
Na montanha procurada
E na gruta ali achada.
A verdade, se ela existe,
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade,
Porque a vida é só metade.
21-9-1934
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990), p. 171
.....................................................................
Gabriela Mistral Montañas mias En montañas me crié
con tres docenas alzadas.
Parece que nunca, nunca,
aunque me escuche la marcha,
las perdí, ni cuando es día
ni cuando es noche estrellada,
y aunque me vea en las fuentes
la cabellera nevada,
las dejé ni me dejaron
como a hija trascordada.
Y aunque me digan el mote
de ausente y de renegada,
me las tuve y me las tengo
todavía, todavía,
y me sigue su mirada. *** Gabriela Mistral Montanhas minhas tradução de Fabio Malavoglia Em montanhas me criei,
três dúzias das elevadas.
Parece que nunca, nunca,
mesmo que ouça meus passos,
as perdi, nem quando é dia,
nem quando é noite estrelada,
e mesmo me vendo nas fontes
de cabeleira nevada,
deixei não, nem me deixaram
como filha deslembrada.
E mesmo se dão-me o nome
de ausente e renegada,
eu as tive e ainda as tenho,
onde seja, onde seja,
vou seguida e observada. .................................................................... Matsuo Bashô (1644 – 1694) hai-kai No perfume das flores de ameixa,
O sol de súbito surge.
- Ah, o caminho da montanha! — ................................................................... Jorge Luís Borges de los “Diecisiete haiku” haiku 1 Algo me han dicho
la tarde y la montaña.
Ya lo he perdido. *** Jorge Luis Borges dos “Dezessete haiku” haiku 1 tradução de Josely Vianna Baptista Algo disseram
A tarde e a montanha.
Já me fugiu.
...................................................................
Yosa Buson hai-kai Faisão da montanha,
o sol da primavera
pisa tua cauda ....................................................................
Cláudio Manoel da Costa Sonetos
VIII Este é o rio, a montanha é esta, Estes os troncos, estes os rochedos; São estes inda os mesmos arvoredos; Esta é a mesma rústica floresta. Tudo cheio de horror se manifesta, Rio, montanha, troncos, e penedos; Que de amor nos suavíssimos enredos Foi cena alegre, e urna é já funesta. Oh quão lembrado estou de haver subido Aquele monte, e as vezes, que baixando Deixei do pranto o vale umedecido! Tudo me está a memória retratando; Que da mesma saudade o infame ruído Vem as mortas espécies despertando.
...................................................................
Tomás Antonio Gonzaga da “Marília de Dirceu” Lira XIV, parte 01 Ornemos nossas testas com as flores
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito
gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre;
e para nós o tempo, que se passa,
também, Marília, morre.
...................................................................
J. R. R. Tolkien The King beneath the Mountains
The King beneath the mountains,
The King of carven stone,
The lord of silver fountains
Shall come into his own!
His crown shall be upholden,
His harp shall be restrung,
His halls shall echo golden
To songs of yore re-sung.
The woods shall wave on mountains
And grass beneath the sun;
His wealth shall flow in fountains
And the rivers golden run.
The streams shall run in gladness,
The lakes shall shine and burn
All sorrow fail and sadness
At the Mountain-king's return!
***
O Rei sob a Montanha paráfrase de Fabio Malavoglia O Rei sob a montanha,
Nas pedras o Esculpido,
Que em prata fontes banha,
Virá ao que lhe é devido!
Ser-lhe-á a Coroa erguida
Ao ressoar sua harpa,
D'ouro e canções antigas
Nas salas sob a escarpa.
Marés verdes nos montes,
E o Sol sobre os gramados;
Seus bens fluirão em fontes
Num derramar dourado.
Nos rios riso em torrentes,
De ardente luz tamanha,
Que todo o mal ausente:
O Rei voltou à montanha! ...................................................................