top of page
  • Foto do escritorFábio Malavoglia

Ep. 71 - AS MONTANHAS

....................................................................

Augusto dos Anjos As Montanhas soneto I Das nebulosas em que te emaranhas

Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,

Qual é, na natureza espiritual,

A significação dessas montanhas!

 

Quem não vê nas graníticas entranhas

A subjetividade ascensional

Paralisada e estrangulada, mal

Quis erguer-se a cumíadas tamanhas?!

 

Ah! Nesse anelo trágico de altura

Não serão as montanhas, porventura,

Estacionadas, íngremes, assim,

 

Por um abortamento de mecânica,

A representação ainda inorgânica

De tudo aquilo que parou em mim?!

 

.................................................................... Fernando Pessoa A montanha por achar

A montanha por achar

Há-de ter, quando a encontrar,

Um templo aberto na pedra

Da encosta onde nada medra.

 

O santuário que tiver,

Quando o encontrar, há-de ser

Na montanha procurada

E na gruta ali achada.

 

A verdade, se ela existe,

Ver-se-á que só consiste

Na procura da verdade,

Porque a vida é só metade.

 

21-9-1934

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990), p. 171


.....................................................................

Gabriela Mistral Montañas mias En montañas me crié

con tres docenas alzadas.

Parece que nunca, nunca,

aunque me escuche la marcha,

las perdí, ni cuando es día

ni cuando es noche estrellada,

y aunque me vea en las fuentes

la cabellera nevada,

las dejé ni me dejaron

como a hija trascordada.

Y aunque me digan el mote

de ausente y de renegada,

me las tuve y me las tengo

todavía, todavía,

y me sigue su mirada. *** Gabriela Mistral Montanhas minhas tradução de Fabio Malavoglia Em montanhas me criei,

três dúzias das elevadas.

Parece que nunca, nunca,

mesmo que ouça meus passos,

as perdi, nem quando é dia,

nem quando é noite estrelada,

e mesmo me vendo nas fontes

de cabeleira nevada,

deixei não, nem me deixaram

como filha deslembrada.

E mesmo se dão-me o nome

de ausente e renegada,

eu as tive e ainda as tenho,

onde seja, onde seja,

vou seguida e observada. .................................................................... Matsuo Bashô (1644 – 1694) hai-kai No perfume das flores de ameixa,

O sol de súbito surge.

- Ah, o caminho da montanha! —  ................................................................... Jorge Luís Borges de los “Diecisiete haiku” haiku 1 Algo me han dicho

la tarde y la montaña.

Ya lo he perdido. *** Jorge Luis Borges dos “Dezessete haiku” haiku 1 tradução de Josely Vianna Baptista Algo disseram

A tarde e a montanha.

Já me fugiu.

...................................................................

Yosa Buson hai-kai  Faisão da montanha,

o sol da primavera

pisa tua cauda ....................................................................

 

Cláudio Manoel da Costa Sonetos

VIII  Este é o rio, a montanha é esta,  Estes os troncos, estes os rochedos;  São estes inda os mesmos arvoredos;  Esta é a mesma rústica floresta.  Tudo cheio de horror se manifesta,  Rio, montanha, troncos, e penedos;  Que de amor nos suavíssimos enredos  Foi cena alegre, e urna é já funesta.  Oh quão lembrado estou de haver subido  Aquele monte, e as vezes, que baixando  Deixei do pranto o vale umedecido!  Tudo me está a memória retratando; Que da mesma saudade o infame ruído Vem as mortas espécies despertando.

 

 ...................................................................

 

Tomás Antonio Gonzaga da “Marília de Dirceu” Lira XIV, parte 01 Ornemos nossas testas com as flores

            e façamos de feno um brando leito;

prendamo-nos, Marília, em laço estreito

            gozemos do prazer de sãos Amores.

                        Sobre as nossas cabeças,

sem que o possam deter, o tempo corre;

            e para nós o tempo, que se passa,

                        também, Marília, morre.

            

...................................................................

J. R. R. Tolkien The King beneath the Mountains

 

The King beneath the mountains,

    The King of carven stone,

The lord of silver fountains

    Shall come into his own!

 

His crown shall be upholden,

    His harp shall be restrung,

His halls shall echo golden

    To songs of yore re-sung.

 

The woods shall wave on mountains

    And grass beneath the sun;

His wealth shall flow in fountains

    And the rivers golden run.

 

The streams shall run in gladness,

    The lakes shall shine and burn

All sorrow fail and sadness

    At the Mountain-king's return!

 

***  

O Rei sob a Montanha paráfrase de Fabio Malavoglia O Rei sob a montanha,

    Nas pedras o Esculpido,

Que em prata fontes banha,

    Virá ao que lhe é devido!

 

Ser-lhe-á a Coroa erguida

    Ao ressoar sua harpa,

D'ouro e canções antigas

    Nas salas sob a escarpa.

 

Marés verdes nos montes,

    E o Sol sobre os gramados;

Seus bens fluirão em fontes

    Num derramar dourado.

 

Nos rios riso em torrentes,

    De ardente luz tamanha,

Que todo o mal ausente:

    O Rei voltou à montanha! ...................................................................






3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page