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  • Foto do escritorFábio Malavoglia

Episódio 30


POEMAS DE JAZZ E BLUES, E VERSOS DE LANGSTON HUGHES Textos do Episódio

 

Roberto Muggiati

De “Rock, o grito e o mito” (São Paulo, Vozes, 1973) da introdução, “O Grtito” (fragmentos) ...berros de estranha entonação eram uma atividade expressiva comum entre os nativos da África Ocidental. O primeiro grito negro cortou os céus americanos como uma espécie de sonar, talvez a única maneira de fazer o reconhecimento do ambiente novo e hostil que o cercava. À medida que o escravo afundava na cultura local – representada, no plano musical, pela tradição europeia – o grito ia se alterando, assumia novas formas. Servia de suporte às canções-de-trabalho e às cantigas-de-escárnio, aos cânticos religiosos (muitos deles obedecendo ao esquema de chamada-e-resposta), a spirituals, a gospel-songs, e às canções de menestréis. Em torno do berro iam se acumulando novos sistemas sonoros, mas ele permanecia a estrutura primeira. O núcleo da expressão musical negra... Foi do casamento do grito escravo com a harmonia europeia que nasceu o blues.... A marca do blues, a sua célula básica, é a blue note – e isso se aplica também ao jazz e de certa forma ao rock. Essas blue notes formam a tonalidade-blue (isto é, “triste”, “melancólica”) ...Quando os primeiros berros cortaram, a noite americana, eram manifestações tão pessoais que identificam imediatamente o indivíduo que os emitia. “Aí vem o Sam”, comentava a namorada, ou o amigo. “Will Jackson está chegando”, ou ainda: “Acabo de ouvir Archie dobrando a esquina”. Os blues também eram marca de individualidade: havia blues de Blind Lemon, blues de Willie Johnson. Já nos primeiros berros se encontrava o material idiomático que caracteriza o blues: o tempo lento, o portamento exagerado, a preferência pela blue note, o sentimento melancólico...


 

Langston Hughes (1902 – 1967)

The Blues

When the shoe strings break

On both your shoes

And you're in a hurry-

That's the blues.


When you go to buy a candy bar

And you've lost the dime you had-

Slipped through a hole in your pocket somewhere-

That's the blues, too, and bad! ........................

Langston Hughes O Blues tradução (com liberdades) de Fabio Malavoglia

Se o sapato aperta E nos pés é um quisto

Logo quando há pressa – Saiba, o blues é isto.


E se chocolate você foi comprar E o tostão que tinha sumiu afinal – teu bolso furado em algum lugar – Blues também é isto, o sabor do mal!

 

Langston Hughes (1902 – 1967)

Juke Box Love Song


I could take the Harlem night

and wrap around you,

Take the neon lights and make a crown,

Take the Lenox Avenue busses,

Taxis, subways,

And for your love song tone their rumble down.

Take Harlem's heartbeat,

Make a drumbeat,

Put it on a record, let it whirl,

And while we listen to it play,

Dance with you till day--

Dance with you, my sweet brown Harlem girl. ........................ Langston Hughes Canção de Amor na Vitrola tradução de Fabio Malavoglia

Pegaria o Harlem à noite

pra torcê-lo a teu redor,

Pra fazer uma coroa pegaria luz de neon,

Pegaria carro e Avenidas,

E os táxis, e o metrô,

E por tua canção de amor à surdina iria o tom

E do Harlem o rubor

Pulsaria como tambor,

Que gravado em rodopio,

A girar e a ser ouvido,

Faz dançar o dia nascido

Com você, mulata doce, que no Harlem acaricio.

 

Langston Hughes (1902 – 1967)

“Jazzonia” Oh, silver tree!

Oh, shining rivers of the soul!


In a Harlem cabaret

Six long-headed jazzers play.

A dancing girl whose eyes are bold

Lifts high a dress of silken gold.


Oh, singing tree!

Oh, shining rivers of the soul!


Were Eve's eyes

In the first garden

Just a bit too bold?

Was Cleopatra gorgeous

In a gown of gold?


Oh, shining tree!

Oh, silver rivers of the soul!


In a whirling cabaret

Six long-headed jazzers play.

........................ Langston Hughes “Jazzonia”

tradução de Fabio Malavoglia

Oh, selva em prata! Oh, chamejantes rios da alma!


Há no Harlem um cabaret: Seis cabeças afiadas tocam jazz. A dançarina do olhar de gozo Alteia a saia d’ouro sedoso.


Oh, selva em canto! Oh, chamejantes rios da alma!


E de Eva no jardim era o olhar ousado assim? E Cleópatra gozosa se dourava no cetim?


Oh, selva em chamas! Oh, prateados rios da alma! Rodopia o cabaret, Seis cabeças afiadas tocam jazz.

 

Langston Hughes (1902 – 1967) April Rain Song Let the rain kiss you

Let the rain beat upon your head with silver liquid drops

Let the rain sing you a lullaby

The rain makes still pools on the sidewalk

The rain makes running pools in the gutter

The rain plays a little sleep song on our roof at night

And I love the rain.


........................ Langston Hughes Canção da Chuva de Abril Tradução de Fabio Malavoglia Deixe a chuva beijar você

Deixe a chuva pingar na tua testa as gotas de água e prata

Deixe a chuva entoar um acalanto

A chuva faz ainda poças na calçada

A chuva faz correr regatos na sarjeta

A chuva canta a miúda canção do sono de noite no nosso teto

E eu amo a chuva.


 

Louis Cattiaux de Física e Metafísica da Pintura do Capítulo 30, “Sugestão O erotismo, que foi uma fonte de criação excepcional na arte oriental, por desgraça foi impiedosamente rechaçado pela moral cristã. A obra erótica sabe conservar a parte espiritual indispensável em toda verdadeira criação. O fato de ter sido desprezada e proibida simplesmente provocou o aparecimento das tão tristes e bestiais obras pornográficas.


................................................................ Trigger

Fabio Malavoglia


Ela morava no circo

(era a cantora, a crooner)

mas por alguma razão

assinaria os papéis.

Fácil não era e uma vez

sem mais nem menos entrou

numa de nossas reuniões

com seu tubinho de franjas

e o olhar debochado

até fazer-me pedir

que ela saísse dali

mesmo que entrasse depois

pelos meus sonhos no dia

em que a encontrei no balcão

branco fazendo a limpeza

onde sentou e cantou

só para mim todo o blues

que terminava dizendo

que prometia nunca mais

“...a single wo-ord to youuuu...”

vindo do fundo onde a alma

dela me amava e eu a ela.

E outra vez eu a vi

numa reunião insisti

“...mas como eu fui expulsa...”

ela dizia e eu olhava

perto sua face

seu corpo

a sua roupa colada

cores de flores e a flor

entre seus crespos cabelos

até que inquieta largou

tudo no meio e saiu

e eu ainda a vi

com sua amiga de longe

nos corredores do circo –

“Trigger!!!” – gritei

mas perdi

no labirinto de pano

a doce pista da deusa

de quem só achei uma ninfa

negra que disse “não sei...

veja se está por aí...”.


 

Do Ímã RádioCast #30

texto após “Trigger” Fabio Malavoglia


...E a procuro até hoje, por entre panos e cores, num labirinto que é circo, palco, plateia e arena... e que está dentro... e me espera. “Trigger”, seu nome, me intriga, já que engatilha em mim algo que ainda engatinha. Aparição fugidia, coisa que está por cumprir, busca secreta de tudo que eu não sei o que é, voz e dolente canção, e as pegadas deixadas... perto do meu coração...



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