top of page
  • Foto do escritorFábio Malavoglia

Ep. 67 - A Água Enigma

Donizete Galvão Milagre Tem de haver um porto, uma praça,

um caramanchão de rosas brancas,

uma sombra. uma moringa d’água.

por certo, tem de haver uma pinguela,

um mata-burro, um canário da terra,

um fogão de lenha soltando fumaça.

deve haver numa curva um remanso,

ceva de pássaros, canto de seriema,

prata de peixes rio acima: piracema. .............................................................. Gabriela Mistral Agua (el final del poema) Quiero volver a tierras niñas;

llévenme a un blando país de aguas.

En grandes pastos envejezca

y haga al río fábula y fábula.

Tenga una fuente por mi madre

y en la siesta salga a buscarla,

y en jarras baje de una peña

un agua dulce, aguda y áspera.


Me venza y pare los alientos

el agua acérrima y helada.

¡Rompa mi vaso y al beberla

me vuelva niñas las entrañas! *** Gabriela Mistral Água (o final do poema) tradução de Fabio Malavoglia Quero rever meninas terras;

e ir-me ao brando país das águas.

Que em grandes pastos envelheça

E diga ao rio fábula e fábula.

Seja uma fonte a minha mãe

e que na tarde saia a buscá-la,

e em jarras deite de uma pedra

uma água doce, aguda e áspera.


Me vença e corte-me os alentos

a água acérrima e gelada.

Rompa-me o copo e ao bebe-la

Meninas faça-me as entranhas! ..............................................................


Fabio Malavoglia In Mare Occultum É d’ouro alaranjado

o peixe filosófico

que vi vindo em viés

à rubra escama e ao fundo

verdesazuis cardumes

a entrelaçar enguias

num líquido vislumbre

pulsante do fulgor

e forma da luz viva

cujo silêncio é sonho

confidencial e oceano. .............................................................. Eugenio Montale Falsetto (frammento) L'acqua è la forza che ti tempra,

nell'acqua ti ritrovi e ti rinnovi:

noi ti pensiamo come un'alga,

un ciottolo,

come un'equorea creatura

che la salsedine non intacca

ma torna al lito piú pura. *** Eugenio Montale Falsete (fragmento) tradução de Fabio Malavoglia A água forja a tua têmpera,

n’água te achas e renovas:

nós te pensamos feito alga,

um pedrisco,

qual uma equórea criatura

que a salsugem não corrói

e torna ao seco inda mais pura ............................................................... Fernando Pessoa Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva... Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva

Não faz ruído senão com sossego.

Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva

Do que não sabe, o sentimento é cego.

Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar

(Nem parece de nuvens) que parece

Que não é chuva, mas um sussurrar

Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.

Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.

Chove longínqua e indistintamente,

Como uma coisa certa que nos minta,

Como um grande desejo que nos mente.

Chove. Nada em mim sente... ............................................................... Philip Larkin Water If I were called in

To construct a religion

I should make use of water.

Going to church

Would entail a fording

To dry, different clothes;

My liturgy would employ

Images of sousing,

A furious devout drench, And I should raise in the east

A glass of water

Where any-angled light

Would congregate endlessly. *** Philip Larkin Água tradução de Fabio Malavoglia E fosse eu enfim

chamado a erguer religião

na certa havia de usar a água.


Ir-se-ia ao templo

pelo vau do rio e após

secar, as diferentes vestes;


Implicaria tal liturgia

cenas molhadas,

furioso charco de devotos,


E eu ergueria ao leste

o copo d’água

onde ângulos de toda luz

reunir-se-iam imperecivelmente. ............................................................... Matsuo Bashô haikku furu yke ya kawazu tobikomu mizu no oto *** Matsuo Bashô hai kai tradução de Fabio Malavoglia Velho tanque: a rã

n’água afunda

o som: em onda

............................................................... Fabio Malavoglia Iê-manjá Regente Dama

dos Sete Mares,

de sol a sal espuma

para Afrodite nascitura,

por onde Ulisses

trilhou o dorso Oceano,

amada Tétis,

Rainha e Mãe

para Simbad e os seus,

nas beiras d’água,

de Ásia e África,

das naus cristãs,

de cruz às velas,

feito em Lepanto,

figura à proa das capitânias,

grito de Drake,

e Fogo e Fúria

em Trafalgar,

como em Pessoa,

na Ode,

e em Salvador,

no andor,

que nesse dia é levado

à procissão no Mar

e à perfeição no Ser

a quem rogamos

a Mão que estende

o Teu Favor a nós,

que Te adoramos,

Nome e Renome,

Vitória e Glória,

da Tua Luz,

que além

se espraia,

atlântica, índica e pacífica. ............................................................... Louis de Gonzague Frick Vénus bonne planète... Vénus bonne planète, accorde-nous la vie

Supérieure et fais que ton puissant génie

Détruise le mensonge en ce temps archisot

Où chacun est si fier de conduire une auto. *** Louis de Gonzague Frick Vênus bom planeta... tradução de Fabio Malavoglia Vênus bom planeta, a vida a nós consente

Elevada e faz com que teu gênio potente

Destrua a mentira deste tempo arqui-tolo

Onde ter carro é o orgulho dos sem miolo.


...............................................................




3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page