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Foto do escritorFábio Malavoglia

Episódio 64: sobre o Fogo


Emily Dickinson Poem 1063 Ashes denote that Fire was — Revere the Grayest Pile For the Departed Creature's sake That hovered there awhile —

Fire exists the first in light And then consolidates Only the Chemist can disclose Into what Carbonates.

*** Emily Dickinson Poema 1063 tradução Fabio Malavoglia A Cinza diz do Fogo que havia; Honra esse Grisalho Sedimento Pelo amor Daquele que Partiu: Aqui pairou só um momento.

Primeiro o Fogo existe em luz, E então depois corporifica, - Só o Químico revela-o pois deduz Aquilo em que se Gaseifica. ..............................................................


Sophia de Mello Breyner Andresen No poema No poema ficou o fogo mais secreto O intenso fogo devorador das coisas Que esteve sempre muito longe e muito perto. .............................................................. Paulo Leminski In honore ordinis sancti benedicti à ordem de são bento

a ordem que sabe

que o fogo é lento

e está aqui fora

a ordem que vai dentro

a ordem sabe

que tudo é santo

a hora a cor a água

o canto o incenso o silêncio

e no interior do mais pequeno

abre-se profundo

a flor do espaço mais imenso. .............................................................. Cecco Angiolieri S’i fosse foco S’i’ fosse foco, arderei ’l mondo; s’i’ fosse vento, lo tempesterei; s’i’ fosse acqua, i’ l’annegherei; s’i’ fosse Dio, mandereil’en profondo;

s’i’ fosse papa, sare’ allor giocondo, ché tutti cristïani imbrigherei; s’i’ fosse ’mperator, sa’ che farei? a tutti mozzarei lo capo a tondo.

S’i’ fosse morte, andarei da mio padre; s’i’ fosse vita, fuggirei da lui: similemente farìa da mi’ madre.

S’i’ fosse Cecco, com’i’ sono e fui, torrei le donne giovani e leggiadre: le vecchie e laide lasserei altrui. *** Cecco Angiolieri (1260 – 1312) S'eu fosse fogo tradução a modo antigo de Fabio Malavoglia

S’eu fosse fogo, arderia el mundo; s’eu fosse vento, a temporal varria; s’eu fosse água, a el afogaria; s’eu fosse Deus, el mandaria en profundo;

s’eu fosse Papa, enton me ria jocundo que todos los cristian persiguiria; s’eu fosse imperador, lo que faria? a todos el cuello talharia rotundo

S’eu fosse morte, lo iria a mi padre, s’eu fosse vida, d’el fugiria também, similemente lo faria a mi madre

S’eu fosse aquel’que mi nome tem, de damas belas me faria comadres las feas viejas largaria a outrem. .............................................................. Robert Frost Fire and Ice Some say the world will end in fire, Some say in ice. From what I’ve tasted of desire I hold with those who favor fire. But if it had to perish twice, I think I know enough of hate To say that for destruction ice Is also great And would suffice. *** Robert Frost Fogo e Gelo tradução Fabio Malavoglia Dizem alguns, o mundo acaba em fogo, Dizem alguns, será no gelo. Por quanto saboreio nos meus rogos Apoio aqueles a favor do fogo. Mas se morrer duas vezes for meu selo Creio do ódio já saber bastante Para dizer aos que preferem gelo Que ele também garante O suficiente flagelo. .............................................................. William Blake A memorable fancy (introducing Proverbs of Hell) As I was walking among the fires of hell, delighted with the enjoyments of Genius; which to Angels look like torment and insanity, I collected some of their Proverbs; thinking that as the sayings used in a nation, mark its character, so the Proverbs of Hell, shew the nature in Infernal wisdom better than any description of buildings or garments,

When I came home: on the abyss of the five senses, where a flat sided steep frowns over the present world, I saw a mighty Devil folded in black clouds, hovering on the sides of the rock, with corroding fires he wrote the following sentence now percieved by the minds of men, & read by them on earth. How do you know but ev'ry Bird that cuts the airy way, Is an immense world of delight, clos'd by your senses five? *** William Blake Uma visão Memorável (introdução aos Provérbios do Inferno) tradução Fabio Malavoglia Enquanto caminhava entre as chamas do Inferno, deleitado pelos gozos do Gênio que aos Anjos parecem tormento e loucura, recolhi alguns de seus Provérbios; pensando que assim como os ditos de um povo assinalam seu caráter, da mesma forma os Provérbios do Inferno mostrariam a Sabedoria Infernal melhor do que qualquer descrição de edifícios ou vestes.

Quando voltei para minha casa: sobre o abismo dos cinco sentidos, onde um dos lados cai a pique e com cenho franzido sobre o mundo atual, vi um poderoso Demônio envolto em nuvens negras, pairando nas paredes da rocha; com chamas corrosivas escreveu a seguinte sentença agora percebida pelas mentes dos homens e lida por eles na terra:

Não sabes que cada pássaro que corta os caminhos do ar é um imenso mundo de deleite, fechado por teus cinco sentidos?

.............................................................. Santo António dá o fogo aos homens conto tradicional da Sardenha conforme Ítalo Calvino em “Fábulas Italianas” Era uma vez um tempo em que não existia o fogo. Os homens passavam muito frio. Foram falar com Santo Antônio, que estava no deserto, meditando. O Santo se compadeceu dos homens, e como o fogo se achava no Inferno, decidiu ir busca-lo.


Oras, antes de ser santo, Antônio tinha sido guardador de porcos, e depois um dos leitões não quis abandoná-lo e o seguia sempre. E lá se foram o porco e Santo António que, com seu bastão de férula, bateu na porta do Inferno.


– Abram, estou com frio!


Os diabos porteiros logo viram que aquele era um santo e não um pecador, e disseram:


– De jeito nenhum! Reconhecemos você! Vá embora!


– Abram para mim, tenho frio! – insistiu o Santo, e o porco afocinhava a porta.


– O porco vamos deixar entrar, claro. Você não! – e os diabos abriram uma fresta suficiente para o porco entrar. Mas o bicho, assim que entrou no Inferno, começou a correr e fuçar por todo lado, armando uma enorme confusão. Os diabos corriam atrás dele para catar os tições, levantar os tridentes que o bicho derrubava, arrumar forcados e ferros de tortura, uma balbúrdia. Os diabos não aguentavam mais não conseguiam pegar o porco, nem expulsá-lo.


Por fim, pediram a ajuda do santo, que tinha ficado de fora, na porta:


– Aquele seu porco danado está pondo tudo abaixo. Venha pegá-lo!


Santo António entrou no Inferno, tocou o porco com seu bastão e este ficou quieto na hora.


– Já que estou aqui, disse Santo /António, vou me sentar um momento para me aquecer – e sentou num saco de cortiça, justamente num corredor, e esticou as mãos para o fogo. De vez em quando passava na frente dele um diabo correndo para ir contar a Satanás sobre alguma alma deste mundo que o diabo tinha feito cair em pecado. E Santo António lhe dava uma bordoada nas costas com o bastão de férula.


– Não gostamos dessa brincadeira – reclamaram os diabos – Abaixe o bastão!


Santo António pôs o bastão a seu lado, com a ponta inclinada para o chão, e o /primeiro diabo que passou gritando; “Chefe, mais uma alma!”, tropeçou e deu de cara no chão.


– Chega! Já encheu a paciência com esse bastão! – gritaram os diabos – vamos queimá-lo já – pegaram o bastão e meteram a ponta dele no fogo. Naquele mesmo instante o porco recomeçou a revirar tudo: lenha, ganchos, tochas, um pandemônio.


– Se quiserem que o acalme – disse o Santo – vão ter de me devolver o bastão. Os diabos devolveram o bastão mais que depressa, e o porco aquietou.


Só que o bastão era de férula, uma madeira que tem o miolo poroso, e se uma centelha ou carvão entra nela, continua queimando escondida, sem que se veja por fora. E assim os diabos não perceberam que Santo Antônio tinha o fogo no bastão. E o santo, depois de ter dado uns bons sermões aos diabos, foi embora, com seu bastão e seu porco, e o Inferno suspirou de alívio.


Assim que se viu por aqui, Santo Antônio ergueu o bastão com a ponta que protegia a chama e a girou, fazendo voar centelhas, como se estivesse dando a bênção. E cantou:


Fogo, fogo, Eis meu rogo, Que em todo o mundo Haja fogo jocundo!


A partir de então, para grande alegria dos homens, houve fogo na terra. E Santo António... voltou ao deserto para meditar. .............................................................. Mário Quintana Inscrição para uma Lareira


A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas!


Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida.

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