A PROVA DO FOGO
Textos do Episódio
Prova De Fogo composição de Erasmo Carlos (1967) (sucesso na voz de Wanderléa)
Esta é uma prova de fogo: Você vai dizer Se gosta de mim. Sei que você não é bobo, Porém seu reinado Vai chegando ao fim...
Tanto tempo eu esperava. Você fingia que me amava, Sorria e até cantava, Fingindo gostar de mim!
Esta é uma prova de fogo:
Você vai dizer
Se gosta de mim.
Sei que você não é bobo,
Porém seu reinado
Vai chegando ao fim...
Sophia de Mello Breyner Andresen No poema No poema ficou o fogo mais secreto O intenso fogo devorador das coisas Que esteve sempre muito longe e muito perto
Jorge de Lima em A Invenção de Orfeu do Canto IV – As Aparições Era um cavalo todo feito em chamas alastrado de insânias esbraseadas; pelas tardes sem tempo ele surgia e lia a mesma página que eu lia.
Depois lambia os signos e assoprava a luz intermitente, destronada, então a escuridão cobria o rei Nabucodonosor que eu ressonhei.
Bem se sabia que ele não sabia a lembrança do sonho subsistido e transformado em musas sublevadas.
Bem se sabia: a noite que o cobria
era a insânia do rei já transformado
no cavalo de fogo que o seguia.
Pablo Neruda en Cien Sonetos de Amor Soneto LXVI
No te quiero sino porque te quiero y de quererte a no quererte llego y de esperarte cuando no te espero pasa mi corazón del frío al fuego.
Te quiero sólo porque a ti te quiero, te odio sin fin, y odiándote te ruego, y la medida de mi amor viajero es no verte y amarte como un ciego.
Tal vez consumirá la luz de enero, su rayo cruel, mi corazón entero, robándome la llave del sosiego.
En esta historia sólo yo me muero y moriré de amor porque te quiero, porque te quiero, amor, a sangre y fuego. *** Pablo Neruda dos Cem Sonetos de Amor Soneto LXVI tradução de Fabio Malavoglia
Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
ao frio do coração abrasa o apego.
Te quero só porque a ti eu quero,
e te odeio sem fim porque me entrego
e mede o meu amor esse desterro
de não te ver e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
seu raio cruel, meu coração inteiro, roubado seu sossego e em vão o rogo Na trama serei morto e nada espero
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.
Cecco Angiolieri (1260 – 1312) S'i' fosse foco S'i' fosse foco, ardere' il mondo;
s'i' fosse vento, lo tempestarei;
s'i' fosse acqua, i' l'annegherei;
s'i' fosse Dio, mandereil'en profondo;
s'i' fosse papa, serei allor giocondo,
ché tutti cristïani embrigarei;
s'i' fosse 'mperator, sa' che farei?
a tutti mozzarei lo capo a tondo.
S'i' fosse morte, andarei da mio padre;
s'i' fosse vita, fuggirei da lui:
similemente faria da mi' madre,
S'i' fosse Cecco, com'i' sono e fui,
torrei le donne giovani e leggiadre:
le vecchie e laide lasserei altrui. *** Cecco Angiolieri (1260 – 1312) S'eu fosse fogo tradução a modo antigo de Fabio Malavoglia S’eu fosse fogo, arderia el mundo;
s’eu fosse vento, a temporal varria;
s’eu fosse água, a el afogaria;
s’eu fosse Deus, el mandaria en profundo;
s’eu fosse Papa, enton me ria jocundo
que todos los cristian persiguiria;
s’eu fosse imperador, lo que faria?
a todos talharia el cuello rotundo
S’eu fosse morte, lo iria a mi padre,
s’eu fosse vida, d’el fugiria também,
similemente lo faria a mi madre
S’eu fosse aquel’que mi nome tem,
de damas belas me faria comadres
las feas viejas largaria a outrem.
Robert Frost
Fire and Ice
Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I've tasted of desire
I hold with those who favor fire.
But if I had to perish twice,
I think I know enough of hate
To say thay for destruction ice
Is also great
And would suffice.
***
Robert Frost
Fogo e Gelo
tradução de Fabio Malavoglia
Dizem alguns, o mundo acaba em fogo,
Dizem alguns, será no gelo.
Por quanto saboreio nos meus rogos
Apoio aqueles a favor do fogo.
Mas se morrer duas vezes for meu selo
Creio do ódio já saber bastante
Para dizer aos que preferem gelo
Que ele também garante
O suficiente flagelo.
William Blake from The Marriage of Heaven and Hell
A Memorable Fancy The ancient tradition that the world will be consumed in fire at the end of six thousand years is true, as I have heard from Hell.
For the cherub with his flaming sword is hereby commanded to leave his guard at the tree of life, and when he does, the whole creation will be consumed and appear infinite and holy whereas it now appears finite & corrupt.
This will come to pass by an improvement of sensual enjoyment.
But first the notion that man has a body distinct from his soul is to be expunged; this I shall do, by printing in the infernal method, by corrosives, which in Hell are salutary and medicinal, melting apparent surfaces away, and displaying the infinite which was hid.
If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite.
For man has closed himself up, till he sees all things thro' narow chinks of his cavern. ***
William Blake de O Casamento do Céu e do Inferno
Uma Visão Memorável tradução de Fabio Malavoglia A antiga tradição de que o mundo será consumido pelo fogo ao cabo de seis mil anos é verdadeira, como Eu ouvi do Inferno.
Pois ao querubim com a Espada de Fogo será desta forma ordenado deixar sua guarda da Árvore da Vida, e quando tal se cumprir toda a Criação há de ser consumida e ver-se-á infinito e santo o que hoje parece finito e
corrompido.
Tal virá a ocorrer mediante o aprimoramento do gozo sensual.
Antes porém a noção de que o homem possui um corpo distinto de sua alma há de ser abolida; assim farei eu, gravando pelo método infernal, mediante corrosivos que no Inferno são salutares e medicinais, dissolvendo as superfícies aparentes, e revelando o Infinito nelas oculto.
Se as portas da percepção se abrissem tudo apareceria aos homens como realmente é, infinito.
Pois o homem encerrou a si mesmo, até passar a ver todas as coisas pela fissura estreita de sua caverna.
Mário Quintana
Inscrição para uma Lareira
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida.
Mãe composição de Caetano Veloso sucesso na voz de Gal Costa Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão
Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração
Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E, só por que não estás
És para mim e nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti
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