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Foto do escritorFábio Malavoglia

Episódio 44

O AMOR NÃO ESTÁ NA MODA

Textos do Episódio

 

Farid ud-Din Attar O Amante e sua Senhora adaptado de “A Linguagem dos Pássaros” Era uma vez um guerreiro que se encontrou, durante cinco anos, tomado de paixão por uma mulher. Ela era sutil, sensível, fresca e bela como a primavera, a não ser pelo fato que tinha, em seu olho direito, um ponto branco, uma mancha ínfima, menor que um grão de sal. O homem, a princípio, não a viu. Mas o tempo passou, como tudo. O coração ardente esfriou. Um dia o guerreiro franziu as sobrancelhas e disse:

– Mulher, venha aqui fora, para que eu veja de perto tua figura. Você tem uma mancha no olho. Desde quando ela apareceu?

E ela respondeu, com a testa baixa:

– Desde que você deixou de me amar.


 

Mikhail Naimy A cegueira do Amor do capítulo 11 do “Livro de Mirdad” tradução do original inglês por alunos do Lectorium Rosiacrucianum Sempre vos ouço dizer que o Amor é cego, no sentido de que não vê defeitos naquele que é amado. Esse tipo de cegueira... é o máximo da visão. Desejassem vocês ser sempre tão cegos que não encontrassem faltas em coisa alguma! ...Pois é claro e penetrante o olhar do Amor. Por isso ele não vê faltas. Quando o Amor houver purificado a vossa visão não vereis jamais nada que não seja digno do vosso Amor. Só uma vista despojada de Amor, um olho faltoso, está sempre ocupado em encontrar faltas. E quaisquer faltas que encontre, serão as suas próprias faltas.

 

Fabio Malavoglia Pandemídia vírus versus

teu veneno

versus toda

anestesia

o contágio

da poesia


 

Omar Khayyam / Edward FitzGerald Rubai 12 A Book of Verses underneath the Bough, A Jug of Wine, A Loaf of Bread — and Thou Beside me singing in the Wilderness — Oh, Wilderness were Paradise enow!


***

Omar Khayyam / Edward FitzGerald Rubai 12 tradução de Fabio Malavoglia Uns poucos Versos por baixo destes Ramos, a Jarra de Vinho, uma Fatia de Pão – e estamos eu e Tu, que a meu lado cantas, nestes Ermos – Oh, Ermos, ora sois o Paraíso, e nos bastamos!

 

William Shakespeare from “Romeo and Juliet”, Act I, scene 5 Romeo If I profane with my unworthiest hand

This holy shrine, the gentle sin is this,

My lips, two blushing pilgrims, ready stand

To smooth that rough touch with a tender kiss.

Juliet Good pilgrim, you do wrong your hand too much,

Which mannerly devotion shows in this:

For saints have hands that pilgrims’ hands do touch,

And palm to palm is holy palmers’ kiss.

Romeo Have not saints lips, and holy palmers too?

Juliet Ay, pilgrim, lips that they must use in pray’r.

Romeo O then, dear saint, let lips do what hands do,

They pray—grant thou, lest faith turn to despair.

Juliet Saints do not move, though grant for prayers’ sake.

Romeo Then move not while my prayer’s effect I take.


***

William Shakespeare de « Romeu e Julieta”, Ato I, cena 5 tradução de Bárbara Heliodora Romeu Se a minha mão profana esse sacrário, Pagarei docemente o meu pecado: Meu lábio, peregrino temerário, O expiará num beijo delicado.

Julieta Bom peregrino, a mão que acusas tanto

Revela-me um respeito delicado: Juntas, a mão do fiel e a mão do santo, Palma com palma se terão beijado. Romeu Os santos não tem lábios, mãos, sentidos? Julieta Ai, tem lábios apenas para a reza. Romeu Fiquem os lábios, como as mãos, unidos, Rezem também, que a fé não os despreza. Julieta Imóveis, eles ouvem os que choram. Romeu Santa, que eu colha o que os meus ais imploram.

 

William Shakespeare Somnet 23


As an unperfect actor on the stage,

Who with his fear is put beside his part,

Or some fierce thing replete with too much rage,

Whose strength's abundance weakens his own heart;


So I, for fear of trust, forget to say

The perfect ceremony of love's rite,

And in mine own love's strength seem to decay,

O'ercharged with burthen of mine own love's might.


O! let my looks be then the eloquence

And dumb presagers of my speaking breast,

Who plead for love, and look for recompense,

More than that tongue that more hath more express'd.

O! learn to read what silent love hath writ:

To hear with eyes belongs to love's fine wit.

*** William Shakespeare Soneto 23 tradução de Fabio Malavoglia


Como imperfeito ator que em plena cena,

Devido ao próprio medo esquece seu papel; Em fúria tão repleta de força que envenena Ao próprio coração e fraqueja deste fel; Assim eu, inseguro, esqueço de dizer Com perfeição o enredo do amoroso rito, Parece decair meu forte bem querer Pois sobrepõe-se a ele, o amor meu infinito. Oh, eloquência! estejas nos olhos com que a fito: São tolos saltimbancos de meu anseio e fala De amor e recompensa que pede o peito aflito, Bem mais que a língua que mais quis expressá-la. Ah! Vem ler o texto mudo que a pena do amor traça,

Que ouvir com olhos, do amor silente é a graça.



 

Michelangelo Buonarroti Un uomo in una donna Un uomo in una donna, anzi uno dio

per la sua bocca parla,

ond’io per ascoltarla

son fatto tal, che ma’più sarò mio.

I’ credo bem, po’ ch’io

a me da lei fu tolto,

fuor di me stesso aver di me pietate;

si sopra ‘l van desio

mi sprona il suo bel volto,

ch’i’ veggio morte in ogni altra beltate.

O donna che passate

per acqua e foco l’alme a’ lieti giorni,

deh, fate ch’a me stesso più non torni.

***

Michelangelo Buonarroti Um homem numa fêmea tradução de Fabio Malavoglia Um homem numa fêmea, aliás um deus

pela sua boca fala,

que eu, por escutá-la

tornei-me tal, que não serei mais meu.

A tanto creio, pois eu

de mim por ela fui deposto

fora de mim a despertar piedade;

desejo em vão sofreu

a espora de tal rosto

que vi só morte nas demais beldades.

O fêmea que levastes

por água e fogo a alma ao tempo doce

que bem seria se eu mesmo não mais fosse.

 

Jalal ud-Din Rumi História do Amante e da Amada Bateu o Amante à porta de sua Amada.

Uma Voz de dentro perguntou: - Quem é?

E ele respondeu - Sou eu.

Replicou a Voz então: - A casa é pequena para os dois.

E a porta assim ficou fechada. O Amante se foi então para o deserto.

Passado um ano retornou. Bateu de novo à porta.

Uma Voz de dentro perguntou: - Quem é?

E ele respondeu: - É você. E foi a porta então aberta.

 

William Shakespeare Somnet 76


Why is my verse so barren of new pride,

So far from variation or quick change?

Why with the time do I not glance aside

To new-found methods, and to compounds strange?


Why write I still all one, ever the same,

And keep invention in a noted weed,

That every word doth almost tell my name,

Showing their birth, and where they did proceed?


O! know sweet love I always write of you,

And you and love are still my argument;

So all my best is dressing old words new,

Spending again what is already spent:

For as the sun is daily new and old,

So is my love still telling what is told.

*** William Shakespeare Soneto 76 tradução de Fabio Malavoglia


Por que meus versos são tão nus de ornato novo?

Por que em não mudar se mostram persistentes?

Por que, com o tempo nosso, o meu olhar não movo

Para combinações e métodos recentes?


Por que uma só coisa escrevo, sem variá-la,

e guardo em vestes tão notórias a invenção

que cada termo meu quase o meu nome fala

mostrando onde nasceu e qual sua razão?


Só escrevo sobre ti, meu doce amor, não vês?

Somente tu e o amor formais meu argumento;

O que já está usado usando ainda uma vez,

dou veste nova ao verbo antigo, eis meu talento.


Pois como o sol é velho e novo a cada dia,

Coisas já ditas o meu amor reanuncia.


 


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