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Foto do escritorFábio Malavoglia

Episódio 41

CRIADAS E SERVIDORES

Textos do Episódio



 

William Butler Yeats

The Chambermaid's First Song

How came this ranger

Now sunk in rest,

Stranger with stranger.

On my cold breast?


What's left to Sigh for?

Strange night has come;

God's love has hidden him

Out of all harm,

Pleasure has made him

Weak as a worm. .........................

William Butler Yeats

A Primeira Canção da Criada

Tradução de Fabio Malavoglia


Tal qual veio, ora o vadio

Dorme e afunda no leito,

Cio de estranhos com cio.

No frio do meu peito?


O que ficou para um Suspiro?

Veio a noite inerme;

O amor de Deus lhe poupou

A dor em sua epiderme,

Pelo prazer se tornou

Mole como um verme.

 

William Butler Yeats

The Chambermaid's Second Song


From pleasure of the bed,

Dull as a worm,

His rod and its butting head

Limp as a worm,

His spirit that has fled

Blind as a worm.

.........................


William Butler Yeats

A Segunda Canção da Criada

Tradução de Fabio Malavoglia


Dos prazeres desse leito,

Imbecil como um verme,

A vara do intruso pleito

Frouxa como um verme,

O espírito em fuga desfeito

Cego como um verme.

 

Arthur Rimbaud Au Cabaret-vert Depuis huit jours, j'avais déchiré mes bottines

Aux cailloux des chemins. J'entrais à Charleroi.

- Au Cabaret-Vert: je demandai des tartines

Du beurre et du jambon qui fût à moitié froid.


Bienheureux, j'allongeai les jambes sous la table

Verte : je contemplai les sujets très naïfs

De la tapisserie. - Et ce fut adorable,

Quand la fille aux tétons énormes, aux yeux vifs,


- Celle-là, ce n'est pas un baiser qui l'épeure ! -

Rieuse, m'apporta des tartines de beurre,

Du jambon tiède, dans un plat colorié,


Du jambon rose et blanc parfumé d'une gousse

D'ail, - et m'emplit la chope immense, avec sa mousse

Que dorait un rayon de soleil arriéré. ......................... Arthur Rimbaud Ao Verde Cabaret tradução de Fabio Malavoglia Depois de oito dias rasgara as minhas botas

Nas pedras dos caminhos. Mas em Charleroi surgiu

- Ao Verde Cabaret: pedi torradas e uma cota

De manteiga e presunto que viesse meio frio.


Abençoado, estiquei as pernas sob a mesa,

Verde: e contemplava as ingênuas figuras

Da tapeçaria. - E era adorável a simpleza,

E a moça de olhos vivos e tetas de fartura,


- Aquela, não teria medo de um beijo! -

Ridente, me serviu torradas e o queijo,

E presunto morno, num prato bem pintado,


Presunto branco e rosa perfumado com um pingo

De alho, - e a cerveja e sua espuma onde respingos

de um raio de sol a tingiam de dourado.



 

A Sopa do Rei conto tradicional adaptação de Fabio Malavoglia Era uma vez um criado do palácio real que foi encarregado de servir a sopa no prato do Soberano. Mas, no momento em que ele estava tirando a sopa da sopeira, uma gota, de repente, caiu da concha e manchou o punho de seda da roupa do Rei, que ficou possesso:

– Com mil raios! Este cão não sabe nem servir uma sopa! – e gritando para o comandante da guarda ordenou: – enforque imediatamente este desastrado!!!

O rapaz, paralisado, ainda tentou balbuciar alguma coisa, mas o Rei estava fora de si:

– Quieto! Você vai pagar com a vida o que fez!

Então o criado, pálido, antes que os guardas o segurassem, simplesmente atirou toda a sopeira na cara do rei. Foi um Deus nos acuda! Duques e condes correram para ajudar o rei, que gritava, coberto de sopa e ferido na testa. O autor do atentado foi derrubado pela guarda real e arrastado à força para fora do salão, em direção do patíbulo. Na confusão, porém, o rei gritou: – Tragam esse homem aqui! (enquanto uma dama da corte tentava limpar seu rosto e a barba imunda, com um lenço perfumado).

O criado criminoso foi posto diante do rei, com violência, fizeram que se ajoelhasse. O rei perguntou:

– Louco! Eu te condenei à morte por uma gota e você ainda jogou a sopeira!!! Por que?

– Majestade – respondeu o infeliz, estranhamente calmo – se eu fosse enforcado por ter sujado sua manga, a fama de tirano o acompanharia o resto da vida, como o rei que matou um homem por causa de uma gota de sopa. Agora está tudo bem. Cometi um crime digno de morte. Ninguém dirá que o rei é injusto, impiedoso e cruel.

Fez-se um silêncio na sala. E depois o rei sorriu. E disse enfim:

– Você está certo, meu servo. Na minha fúria, tinha perdido toda razão. Teria me arrependido amargamente.

E assim o criado foi perdoado e, mais que isso, recompensado generosamente por suas sábias palavras. E até hoje, naquele reino, quando um juiz julga com excessiva severidade e rigor os pobres e os fracos, logo se ouve dizer:

- Aquele juiz está precisando que alguém lhe atire uma sopeira na cara!

 

Fernando Pessoa Servo sem dor de um desolado intuito

in Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1973. Servo sem dor de um desolado intuito,

De nada creias ou descreias muito.

O mesmo faz que penses ou não penses.

Tudo é irreal, anónimo e fortuito.


Não sejas curioso do amplo mundo.

Ele é menos extenso do que fundo.

E o que não sabes nem saberás nunca

É isso o mais real e o mais profundo.


Troca por vinho o amor que não terás.

O que esperas, perene o esperarás.

O que bebes, tu bebes. Olha as rosas.

Morto, que rosas é que cheirarás?


Vendo o tumulto inconsciente em que anda

A humanidade de uma a outra banda,

Não te nasce a vontade de dormir?

Não te cresce o desprezo de quem manda?


Duas vezes no ano, diz quem sabe,

Em Nishapor, onde me o mundo cabe,

Florem as rosas. Sobre mim sepulto

Essa dupla anuidade não acabe!


Traze o vinho, que o vinho, dizem, é

O que alegra a alma e o que, em perfeita fé,

Traz o sangue de um Deus ao corpo e à alma.

Mas, seja como for, bebe e não sê.


Com seus cavalos imperiais calcando

Os campos que o labor esteve lavrando,

Passa o César de aqui. Mais tarde, morto,

Renasce a erva, nos campos alastrando.


Goza o Sultão de amor em quantidade.

Goza o Vizir amor em qualidade.

Não gozo amor nenhum. Tragam-me vinho

E gozo de ser nada em liberdade.


30-11-1933

 

Paulo Leminski

Amar você é coisa de minutos Amar você é coisa de minutos

A morte é menos que teu beijo

Tão bom ser teu que sou

Eu a teus pés derramado

Pouco resta do que fui

De ti depende ser bom ou ruim

Serei o que achares conveniente

Serei para ti mais que um cão

Uma sombra que te aquece

Um deus que não esquece

Um servo que não diz não

Morto teu pai serei teu irmão

Direi os versos que quiseres

Esquecerei todas as mulheres

Serei tanto e tudo e todos

Vais ter nojo de eu ser isso

E estarei a teu serviço

Enquanto durar meu corpo

Enquanto me correr nas veias

O rio vermelho que se inflama

Ao ver teu rosto feito tocha

Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha

Sim, eu estarei aqui

 

Florbela Espanca

Escrava Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu senhor,

Eu te saúdo, olhar do meu olhar,

Fala da minha boca a palpitar,

Gesto das minhas mãos tontas de amor!

Que te seja propício o astro e a flor,

Que a teus pés se incline a terra e o mar,

P’los séculos dos séculos sem par,

Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu senhor!

Eu, doce e humilde escrava, te saúdo,

E, de mãos postas, em sentida prece,

Canto teus olhos de oiro e de veludo.


Ah, esse verso imenso de ansiedade,

Esse verso de amor que te fizesse

Ser eterno por toda a Eternidade!...

 

(palavras de Alce Negro) in « Alce Negro fala », John G. Neihardt, Lisboa : Antígona, 2000

“A paz... entra nas almas dos homens quando eles se dão conta de sua relação, sua unidade, com o universo e todos os seus poderes, e quando se dão conta que no centro do Universo mora Wakan-Tanka, o Grande Espírito, e que este centro está realmente em todas as partes, está dentro de cada um de nós... Este conhecimento não pode ser obtido a menos que exista uma perfeita humildade, a menos que o homem se humilhe diante da criação inteira, diante da menor formiga, tomando consciência de seu próprio nada. Somente sendo nada pode um homem chegar a ser tudo, e só então toma consciência de sua irmandade essencial com todas as formas da vida. Seu centro, ou sua Vida, é o mesmo centro ou Vida de tudo o que é”.

 


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