RABELAIS E O VINHO ADIVINHO Textos do Episódio
Aos leitores François Rabelais tradução Fabio Malavoglia
Amigos leitores que este livro ledes,
Despojai-vos de toda afetação,
E ao lê-lo, do escândalo descredes:
Não contém mal nem infecção.
Certo é que nele pouca perfeição
Aprendereis, salvo no que se refere a rir;
Nenhum outro tema pode meu coração seguir,
Vendo o duelo que vos mina e consome.
Mais vale de riso que de lágrimas redigir,
Posto que rir é o próprio do homem.
Parêntese rockeiro Fabio Malavoglia
Parêntese roqueiro no clássico relato (volume nos seus fones, a história é dos Stones): um dia numa entrevista com Keith o guitarrista alguém lascou no ato “o que tu mais detesta?” e ele pela fresta entrou qual pé de vento e disse...: (longa pausa) “argumentos!” E isso é igual ao dom da Blanche du Bois
que diz: não liga a luz! não quero nem saber das coisas como são e aquilo que não há mas sim como supus na alma e coração que deveriam ser e como há alguns momentos repito aqui o refrão e não me venha com... (longa pausa) argumentos.
A Divina Comédia Inferno, Canto III, 10 a 15 Dante Alighieri original + tradução de Vasco Graça Moura Queste parole di colore oscuro
vid’io scritte al sommo d’una porta;
per ch’io: « Maestro, il senso lor m’è duro »
Ed elli a me, come persona accorta:
« Qui si convien lasciare ogni sospetto;
ogni viltà convien che qui sia morta »
..........................
Estas palavras em letreiro escuro
escritas vi por cima de uma porta;
e disse: « Mestre, o seu sentido é duro. »
Então ele, avisado, me conforta:
« Convém deixar aqui temor secreto;
Convém toda vileza seja morta. »
Epilemia ou O Canto da Divina Botelha François Rabelais original + tradução de Fabio Malavoglia
O Bouteille,
Pleine toute
De mystères,
D'une oreille
Je t'écoute :
Ne diffère,
Et le mot profère
Auquel pend mon cœur
En la tant divine liqueur,
Qui est dedans tes flancs reclose,
Bacchus, qui fut d'Inde vainqueur,
Tient toute vérité enclose.
Vin tant divin, loin de toi est forclose
Toute mensonge et toute tromperie.
En joie soit l'aire de Noach close,
Lequel de toi nous fit la tempérie.
Sonne le beau mot, je t'en prie,
Qui me doit ôter de misère.
Ainsi ne se perde une goutte
De toi, soit blanche ou soit vermeille.
O Bouteille,
Pleine toute
De mystères,
D'une oreille
Je t'écoute :
Ne diffère.
..............................................
Tradução de Fabio Malavoglia
Ó Botelha,
Toda plena
De mistério,
D'uma orelha
Ouço apenas
Não pretere-o,
E ao termo profere-o
Donde pende meu amor.
Pois em tal divino licor,
Que nos rins tem guarida,
Baco, da Índia o vencedor,
Tens a verdade em ti retida.
Vinho adivinho, longe de ti excluída
Seja a trapaça e a inverossimilhança
N’alegria seja a brisa de Noé mantida,
A qual de ti nos dá a temperança.
Rogo soes a boa palavra, sem tardança
E me aparte da miséria o vitupério.
Assim nem uma gota amena
De ti se perca, seja alva ou vermelha.
Ó Botelha,
Toda plena
De mistério,
D'uma orelha
Ouço apenas
Não pretere-o.
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