De montanhas e de serpentes
Textos do Episódio
haiku número 01
Dos Dezessete Haiku
Jorge Luís Borges tradução de Josely Vianna Batista
Algo disseram a tarde e a montanha. Já me fugiu.
Das Viagens de Simbad, o Marujo
Da Segunda Viagem
O poema de Simbad, o carregador tradução de Mamede Moustafá Jarouche
Sou um desgraçado, sem repouso, o destino me impôs peso sem igual; este sempre goza nos prazeres canta, caça, come e bebe, faustoso, e eis-nos aqui, como estátuas de metal! Mas meu caso é pior que o de outros seres!
O Encantador de Serpentes Rainer Maria Rilke
Tradução de Augusto de Campos Quando na praça, ondeando, o encantador toca a flauta que embala e entorpece, às vezes ele atinge ao seu redor alguém, em meio à turba, e o adormece,
e o faz entrar no círculo da flauta, que quer e quer e quer e vai e volta, até que emerja a cabeça alta do réptil, que do seu cesto se solta,
alternando tontura e lassidão, o que expande e tensiona e o que represa —; basta um olhar daquele indiano, então, para infundir no outro uma estranheza
que te mata. Como se de repente o céu caísse. De súbito estrias racham-te o rosto. Há especiarias na memória boreal e a tua mente
de nada serve. Inútil, a magia. O sol fermenta, vêm febres ferventes,
os raios têm maléfica alegria e o veneno cintila nas serpentes.
De “El Libro de Adán”
Carlos del Tilo tradução de Fabio Malavoglia “...símbolo significa “sinal de reconhecimento”, pois este é o sentido exato da palavra grega symbolon, do verbo symballo, “juntar”, “reunir”;... Segundo o dicionário grego de Anatole Bailly, o termo se referia primitivamente a “um objeto partido em dois, do qual duas pessoas conservavam uma metade e que transmitiam a seus filhos. Estas duas metades reunidas serviam para que aqueles que as levavam se reconhecessem, e para demonstrar as relações de hospitalidade que tinham existido anteriormente”, As duas partes separadas, uma vez reunidas, se ajustavam exatamente uma à outra para formar de novo o objeto primitivo. É necessário que o símbolo seja reunido com sua outra metade natural para poder constituir “o sinal de reconhecimento”...
Símbolos
Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa fragmento Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria — pobre figura de miséria e desamparo! —
Que o namorado voltasse para a costureira.
Evangelho de Mateus, 24: 28
“Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias”.
A Aproximação a Almotássim
nota de rodapé Jorge Luís Borges tradução de Rolando Roque da Silva O remoto rei dos pássaros, o Simurg, deixa cair no centro da China uma pluma esplêndida; os pássaros resolvem busca-lo, fartos de sua antiga anarquia. Sabem que o nome de seu rei quer dizer Trinta Pássaros; sabem que seu alcáçar está no Kaf, a montanha circular que rodeia a Terra. Acometem a quase infinita aventura; superam sete vales, ou mares; o nome do penúltimo é Vértigo; o último se chama Aniquilação. Muitos peregrinos desertam; outros perecem. Trinta, purificados pelos trabalhos, pisam a montanha do Simurg. Contemplam-no enfim: percebem que eles são o Simurg e que o Simurg é cada um deles e todos.
Uma pergunta
Fabio Malavoglia Onde fica
a Montanha que unifica?
Onde a argila
que a Serpente nos sibila?
Funda altura
que o Pássaro procura...?
Do Vale à Montanha
Fernando Pessoa Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por Quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos,
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.
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