Donizete Galvão Milagre Tem de haver um porto, uma praça,
um caramanchão de rosas brancas,
uma sombra. uma moringa d’água.
por certo, tem de haver uma pinguela,
um mata-burro, um canário da terra,
um fogão de lenha soltando fumaça.
deve haver numa curva um remanso,
ceva de pássaros, canto de seriema,
prata de peixes rio acima: piracema. .............................................................. Gabriela Mistral Agua (el final del poema) Quiero volver a tierras niñas;
llévenme a un blando país de aguas.
En grandes pastos envejezca
y haga al río fábula y fábula.
Tenga una fuente por mi madre
y en la siesta salga a buscarla,
y en jarras baje de una peña
un agua dulce, aguda y áspera.
Me venza y pare los alientos
el agua acérrima y helada.
¡Rompa mi vaso y al beberla
me vuelva niñas las entrañas! *** Gabriela Mistral Água (o final do poema) tradução de Fabio Malavoglia Quero rever meninas terras;
e ir-me ao brando país das águas.
Que em grandes pastos envelheça
E diga ao rio fábula e fábula.
Seja uma fonte a minha mãe
e que na tarde saia a buscá-la,
e em jarras deite de uma pedra
uma água doce, aguda e áspera.
Me vença e corte-me os alentos
a água acérrima e gelada.
Rompa-me o copo e ao bebe-la
Meninas faça-me as entranhas! ..............................................................
Fabio Malavoglia In Mare Occultum É d’ouro alaranjado
o peixe filosófico
que vi vindo em viés
à rubra escama e ao fundo
verdesazuis cardumes
a entrelaçar enguias
num líquido vislumbre
pulsante do fulgor
e forma da luz viva
cujo silêncio é sonho
confidencial e oceano. .............................................................. Eugenio Montale Falsetto (frammento) L'acqua è la forza che ti tempra,
nell'acqua ti ritrovi e ti rinnovi:
noi ti pensiamo come un'alga,
un ciottolo,
come un'equorea creatura
che la salsedine non intacca
ma torna al lito piú pura. *** Eugenio Montale Falsete (fragmento) tradução de Fabio Malavoglia A água forja a tua têmpera,
n’água te achas e renovas:
nós te pensamos feito alga,
um pedrisco,
qual uma equórea criatura
que a salsugem não corrói
e torna ao seco inda mais pura ............................................................... Fernando Pessoa Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva... Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente... ............................................................... Philip Larkin Water If I were called in
To construct a religion
I should make use of water.
Going to church
Would entail a fording
To dry, different clothes;
My liturgy would employ
Images of sousing,
A furious devout drench, And I should raise in the east
A glass of water
Where any-angled light
Would congregate endlessly. *** Philip Larkin Água tradução de Fabio Malavoglia E fosse eu enfim
chamado a erguer religião
na certa havia de usar a água.
Ir-se-ia ao templo
pelo vau do rio e após
secar, as diferentes vestes;
Implicaria tal liturgia
cenas molhadas,
furioso charco de devotos,
E eu ergueria ao leste
o copo d’água
onde ângulos de toda luz
reunir-se-iam imperecivelmente. ............................................................... Matsuo Bashô haikku furu yke ya kawazu tobikomu mizu no oto *** Matsuo Bashô hai kai tradução de Fabio Malavoglia Velho tanque: a rã
n’água afunda
o som: em onda
............................................................... Fabio Malavoglia Iê-manjá Regente Dama
dos Sete Mares,
de sol a sal espuma
para Afrodite nascitura,
por onde Ulisses
trilhou o dorso Oceano,
amada Tétis,
Rainha e Mãe
para Simbad e os seus,
nas beiras d’água,
de Ásia e África,
das naus cristãs,
de cruz às velas,
feito em Lepanto,
figura à proa das capitânias,
grito de Drake,
e Fogo e Fúria
em Trafalgar,
como em Pessoa,
na Ode,
e em Salvador,
no andor,
que nesse dia é levado
à procissão no Mar
e à perfeição no Ser
a quem rogamos
a Mão que estende
o Teu Favor a nós,
que Te adoramos,
Nome e Renome,
Vitória e Glória,
da Tua Luz,
que além
se espraia,
atlântica, índica e pacífica. ............................................................... Louis de Gonzague Frick Vénus bonne planète... Vénus bonne planète, accorde-nous la vie
Supérieure et fais que ton puissant génie
Détruise le mensonge en ce temps archisot
Où chacun est si fier de conduire une auto. *** Louis de Gonzague Frick Vênus bom planeta... tradução de Fabio Malavoglia Vênus bom planeta, a vida a nós consente
Elevada e faz com que teu gênio potente
Destrua a mentira deste tempo arqui-tolo
Onde ter carro é o orgulho dos sem miolo.
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